Nem mesmo as mais modernas tecnologias foram capazes de banir o golpe da
barriga do repertório das desonestas da ficção. Ele segue firme e forte na
condução das tramas, e é quase onipresente nas novelas. Desesperadas para
reverter uma rejeição ou por simplesmente querer se dar bem, sempre há alguma
personagem disposta a lançar mão de uma gravidez para tentar amarrar algum
notório mané.
Mas mais ousada do que a maioria das pilantras que a precedem, a Suelen (Ísis
Valverde) fez pior em
Avenida Brasil – prendeu metade
do Divino Futebol Clube em torno de uma gravidez que jamais existiu. Ela foi
desmascarada no capítulo de ontem, e o vexame ainda vai repercutir por um tempo
na trajetória da personagem, que vai se tornar uma verdadeira Geni do Divino –
ontem, para começar, ela acabou nua em pleno baile.
Também no ar, Valéria (Andrea Horta) acaba de se dar mal em
Amor
Eterno Amor (Globo, 18h). Ela tentou levar Rodrigo (Gabriel Braga
Nunes) ao altar, dizendo que ele é pai do filho que ela espera, mas a verdade
veio à tona e só lhe sobrou Josué (Raphael Viana), o verdadeiro pai da criança.
Em
Cheias de Charme, a periguete Brunessa (Chandelly
Braz) trata de aterrorizar dois com sua barriga já evidente – no popular
Borralho, o grafiteiro Rodinei (Jayme Matarazzo), e, no refinado condomínio
Casagrande, o almofadinha Humberto (Rodrigo Pandolfo). E até a juvenil
Malhação tem a sua grávida chantagista – Cristal
(Thaís Melchior).
Mas golpe da barriga como o de Suelen, a granel, nunca se viu igual. E olhe
que o recurso é tão usado pelos autores que a galeria das golpistas da
maternidade é das mais sortidas da teledramaturgia – tem ricas e pobres, moças
de época e moças contemporâneas, vilãs terríveis e matusquelas
inconsequentes.
Laura (Viviane Pasmanter): gravidez dupla para tentar prender Marcelo (Fábio
Assunção) em 'Por Amor' (Divulgação/Globo
Entre as “obsessivas e destrambelhadas”, ninguém supera a Laura (Viviane
Pasmanter), de
Por Amor (1998). Determinada a
conquistar Marcelo (Fábio Assunção) e afastá-lo de Maria Eduarda (Gabriela
Duarte), a matusquela mimada embebeda o moço e – bingo! – consegue engravidar –
de gêmeos.
Prova da importância do golpe da barriga nas novelas é que ele chega a ser o
estopim de algumas tramas. Na primeira fase de
Senhora do
Destino (2004), a vilã Nazaré (Adriana Esteves), uma prostituta,
consegue se casar com José Carlos (Tarcísio Meira) ao inventar uma gravidez.
Depois, para manter a farsa, sequestra a filha de Maria do Carmo (Susana
Vieira), a heroína da história.
Outra temível vilã que tentou subir na vida graças a uma gravidez foi a Flora
de
A Favorita (2008). Nos primórdios da novela, ela
disse estar grávida de Marcelo (Flávio Tolezani), mas o verdadeiro pai de sua
filha era o cafajeste Dodi (Murilo Benício).
Na companhia dela, estão ainda a Maria de Fátima (Glória Pires) de
Vale Tudo (1988), a Raquel (Glória Pires) de
Mulheres de Areia (1993), a Melina (Mayana Moura) de
Passione (2010) e a Irene (Fernanda Paes Leme) de
Insensato Coração (2011). Esta última abusou da
fantasia – engravidou de Pedro (Eriberto Leão), o mocinho mais pateta dos
últimos tempos, ao fazer uma inseminação artificial a partir de um preservativo recolhido no lixo.
Mas será que uso indiscriminado do golpe da barriga na ficção é reflexo do
que acontece na vida real? É bom avisar às que se animam com essa possibilidade:
as golpistas das novelas nunca se dão bem no final.
Fonte.veja.abril.com.br